Música

domingo, 17 de outubro de 2010

1,99: Um supermercado que vende palavras e Ilha das Flores

 
Depois do impressionante Nós que aqui estamos por vós esperamos, de 1999, Marcelo Masagão parece nos impressionar novamente com a sua mais bela combinação fílmica de imagens, palavras e música. Em 1,99: O supermercado que vende palavras, de 2005, Masagão faz uma brilhante associação entre o consumismo desenfreado da sociedade capitalista e a venda de estilos de vida, ou como o filme retrata, a venda de conceitos, de palavras, buscando retratar nossa conteporaneidade que dá primazia mais a aquilo que se tem, do que aquilo que se é, apontando, por sua vez, o fetiche que se tem sobre o consumismo. As cenas mais brilhantes se concentram naquela que o cara vai sacar dinheiro do caixa eletrônico e aparece a face de uma mulher sentindo prazer pela situação, simbolizando a relação dependente - e até escrava - entre capitalismo e consumismo. A outra cena está na venda do conceito - Escolha sua dívida - e a disposição de caixas e mais caixas com os determinados prazos a se pagar - 3 meses, 6 meses, 2 anos, por exemplo, e o cara que fica no caixa pregar na própria pessoa o valor do juros a ser cobrado, 3%, 10%, por exemplo. A cena dos protestantes da ação contra o tédio também é digna de nota. Masagão também não se esqueceu da massa de excluídos de nossa sociedade, acusados simplesmente de não possui o poder de consumo, de compra, ou seja, dinheiro. São todas aquelas pessoas que foram barrados do supermercado e ficam vagando pelo seu exterior, nas margens de nossa sociedade. Enfim, muitas outras questões são apontadas por esse belíssimo trabalho, desde o trato e a atenção que deveríamos ter com os idosos, aos problemas da auto-imagem das pessoas, essas que cada vez mais, nos circuitos das redes sociais são alteradas por Photoshops da vida. O mais irônico do filme é fazer crítica a grandes multinacionais e marcas e no seu início gastar mais de cinco minutos exibindo essas mesmas marcas como patrocinadores ou apoio cultural da produção. Mas creio que sem isso o cinema nacional não seria nada, né?

 
Mais ou menos nessa perspectiva, tem-se também o aclamado e premiado curta de Jorge Furtado, Ilha das Flores, de 1989. Esse documentário retrata a história de um tomate. Plantado pelo Sr. Suzuki, o tomate sai do tomateiro, é vendido ao supermercado, comprado por uma dona de casa, essa que o julga inapropriado para o molho do porco e o descarta no lixo. Do lixo, ele é encaminhado para Ilha das Flores, o lixão de uma cidade do sul do país. Lá, o lixo é selecionado entre porcos e pessoas. O tomate, por sua vez, é julgado mais uma vez como inapropriado, agora para os porcos, servindo-se, apenas, para satisfazer a fome de uma criança faminta. Dessa forma, Ilha das flores retrata não só o consumismo, mas também a perversidade do sistema capitalista baseado na exploração do homem, cujo resultado se traduz na grande desigualdade social. Além disso, o curta aponta também para a crueldade do próprio ser humano, retratando sua ganância e a falta de solidariedade para com os outros. Vale a pena conferir!!

Download Ilha das Flores 

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