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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Tempos de Paz


E viva o cinema nacional! Daniel Filho se superou dessa vez. Está certo que Tempos de Paz é um mérito muito mais de seus protagonistas, Tony Ramos e Dan Stulbach, do que, propriamente, do diretor. Porém, Daniel Filho - o mesmo das tramas novelísticas de Se eu fosse você 1, 2 e o futuro 3,  - teve a sensibilidade de projetar para o cinema a aclamada peça teatral estrelada pelos mesmo atores, Novas diretrizes em Tempos de Paz. Além disso, o filme teve um orçamento de baixo custo (1,5 milhão de reais) e  foi  gravado em apenas 10 dias.
Tempos de paz apresenta um enredo histórico, pois retrata a ditadura varguista, o Estado Novo, que compreendeu os anos de 1937-1945. O filme trabalha bem as questões que caracteriza uma ditadura: censura, perseguição, tortura, prisões e, principalmente, a violência física e psicológica decorrentes do período. Esse é um ponto positivo da trama, uma vez que, na história brasileira, a ditadura varguista sempre ocupou um lugar secundário se comparado a militar, seja pelo tempo menor em que vigorou ou, talvez, pela política "populista" (via criação de uma legislação social e trabalhista) empregada por Vargas que, de certa forma, camuflou tais aspectos totalitários. Digo secundário no sentido de que, por vezes, a violência desses períodos são colocados em uma balança e comparada, atitude essa que deixa de considerar importantes nuances do contexto histórico em que lhes são referentes. Ora, a violência, seja ela em maior ou menor grau, não deixa de ser alarmante por isso. Um regime ditatorial, sendo esse militar ou não, fere, além dos nossos direitos "democráticos", (as aspas são totalmente válidas, principalmente quando pensamos que se vivessemos numa democracia de fato, o voto e o alistamento militar não teriam que ser necessariamente obrigatórios) as liberdades pessoais do indivíduo, necessitando, para tanto, o uso de uma força desmedida, violenta, para se manter a "ordem".
Mas voltando ao filme, como disse, a trama retrata muito bem esses aspectos. Ela traz a história de Segismundo e Clausewitz, dois sujeitos totalmente opostos, cujas histórias se encontrarão no meio de um interrogatório da imigração.  O título do filme, Tempos de Paz, refere-se ao fim da Segunda Guerra Mundial e a adoção de novas diretrizes políticas para o momento. Segismundo, ex-torturador e oficial da polícia do governo, por exemplo, já tinha sido remanejado para o Departamento de Imigração em funçao do conflito.  Sua missão, na alfândega, seria empregar uma política de "caça aos nazistas e aos comunistas". Entretanto, com o cessar dos canhões, esse seu trabalho, novamente, já não fazia mais sentido para o governo brasileiro.  Sentia-se como se seus serviços que ora foram tão valorizados, já não eram mais úteis ao regime. Aliás, um dos ponto altos da película é a forma com que Segismundo (Tony Ramos), já como ex-oficial da polícia de Vargas, conta, com uma frieza ímpar, alguns do processo de tortura que empregou. Assim, nesses novos tempos, Segismundo passa a temer também uma possível vingança dos prisioneiros que torturou.
Clausewitz ao aportar em terras brasileiras fica maravilhado com a possibilidade de uma vida nova no estrangeiro. Na alfândega, seu erro foi recitar, de forma emocionada, um poema de Drummond, pois além de explicitar certo domínio pela língua portuguesa, ainda deixou intrigrado o agente da imigração, pelos dizeres  de O poeta é um fingidor - Não serei o poeta de um mundo caduco. Também não cantarei o mundo futuro. Estou preso à vida e olho meus companheiros Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças. Clausewitz foi levado para o interrogatório. O interrogador? Segismundo.  Ele fez de Clausewitz seu último caso na alfândega. Como seu passaporte atestava que era agricultor, Segismundo começa a desconfiar do polonês pelas mãos lisas que apresenta e também pela inexistência de bagagens. Clausewitz, porém, não tem nada a oferecer além de suas memórias manchadas pela guerra. Num jogo de diálogos interessante, Tony e Dan, enquanto atores, envolvem-se no drama, com atuações pra lá de excepcionais.  Nesse contexto, o surpreendente acontece: o monólogo de Dan, de fato, faz chorar.

Abro um parênteses. Caro leitor, se durante sua sessão cinema o papel exercido por Dan lhe intrigar, lhe trazer dúvidas como: - Isso não me é estranho... Fique tranquilo! De fato, o Clausewitz muito te lembrará Viktor Navorski em O Terminal. Ou seja, não será só a semelhança física entre Dan Stulbach e Tom Hanks que te perturbará, mas também a semelhança dos papéis e do roteiro apresentado sobre o personagem. Fecho parênteses.

Emocionante e teatral. Essas são as características do filme. Recomendo a todos aqueles que clamam por grandes atuações e belas produções.


Para baixar é só clicar no título ou no link alternativo do filme.

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