Música

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Black Swan (Cisne Negro)


Pensando na premiação cinematográfica oferecida pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Los Angeles, sob o signo da famosa e visada estatueta, publicarei resenhas críticas (e o link para downloads) das principais indicações dignas de Oscar. O escolhido para estrear a sessão foi Cisne negro. 

Cisne negro (2010) dirigido por nada mais e nada menos que Darren Aronofsky, explora, como não podia deixar de ser, os limites humanos. O diretor começou a ganhar destaque no universo cinematográfico depois da recepção do surrealista e impressionista PI (1998) (isso mesmo, o número matemático que expressa o valor de 3,1415...) e do psicodélico (e aclamado no mundo cult) Requiém for a Dream (Requiém para um sonho - 2000). Assim, Cisne negro trabalha sob uma perspectiva semelhante: a história da bailarina Nina, uma garota que sofre com a proteção excessiva da mãe e com seu perfeccionismo. Mesclado a isso estão as alucionações frequentes da garota que tramitam entre os limites do real, irreal, surreal e imaginário. Ser bailarina já é uma tarefa árdua que exige uma disciplina incomum, excessiva, além de forçar os limites físicos de qualquer pessoa. Além disso, há a pressão oriunda do próprio mundo artístico - competitividade entre bailarinas - da mãe e a do diretor, esse que exige que Nina sinta, viva e liberte seus desejos reprimidos. O diretor, Thomas e outra bailarina, Lily, envolve Nina numa teia de erotismo e prazer, confundindo ainda mais a garota e potencializando suas paranóias. Além disso, após ser selecionada para o papel principal da peça Lago dos Cisnes, Nina tem de enfrentar  seus próprios medos e angústicas provocados pela sina de ser, em sua concepção, imperfeita. Tanto na peça quanto no filme, o cisne branco e o cisne negro são faces de uma mesma pessoa, mas com características totalmente diferentes, antagônicas. Nina se encaixa no perfil do cisne branco, contida, correta, doce e inocente, enquanto Lily, que também almeja o papel, representaria, dessa forma, o cisne negro, pois demonstra maior leveza, liberdade, ousadia e sensualidade. No começo da película, a insegurança e apatia da personagem provoca certa morosidade a trama, porém Nina cresce ao longo do filme e ganha força, graças a belíssima e comovente interpretação de Natalie Portman. Portman, de fato, se entregou a personagem e, mais uma vez, assim como em Closer, trouxe a trama toda para si, concentrando a atenção do telespectador para os problemas psicológicos de sua personagem.
Essa produção, além do roteiro, têm outras qualidades: a cenografia e a fotografia são bem construídas e bonitas esteticamente. Mais uma vez - porém menos que em Pi - o diretor investe no figurino, maquiagens e cenografia em tons de cinza, branco e preto, privilegiando assim, o ar sombrio do terror psicológico e suspense que a trama provoca. A técnica fílmica utilizada pelo diretor também é brilhante, pois ele lança mão de recursos para intensificar a sensação de perseguição da personagem, como a cena que mostra Nina se refletir em diversos espelhos, com reflexos diferenciados. Aliado a isso, está a belíssima forma com que a peça de balé é mostrada, essa que transportada para a sétima arte, é agradável de ser apreciado. Aqui, a atuação de Portman faz toda a diferença, já que a atriz consegue mesclar passos delicados de balé, seu ar doce e inocente com uma interpretação dramática e, por vezes, psicótica.

Ps: Sempre olhei com certo preconceito esses filmes concorrentes ao Oscar e acho que esse fato fez eu me surpreender ainda mais com essa produção. Uma ótima indicação para uma tarde cinzenta de domingo como hoje.

Cisne Negro

5 indicações ao Oscar:

Melhor filme
Melhor diretor
Melhor atriz
Melhor fotografia
Melhor edição 

Para baixar é só clicar no título do post.

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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Tempos de Paz


E viva o cinema nacional! Daniel Filho se superou dessa vez. Está certo que Tempos de Paz é um mérito muito mais de seus protagonistas, Tony Ramos e Dan Stulbach, do que, propriamente, do diretor. Porém, Daniel Filho - o mesmo das tramas novelísticas de Se eu fosse você 1, 2 e o futuro 3,  - teve a sensibilidade de projetar para o cinema a aclamada peça teatral estrelada pelos mesmo atores, Novas diretrizes em Tempos de Paz. Além disso, o filme teve um orçamento de baixo custo (1,5 milhão de reais) e  foi  gravado em apenas 10 dias.
Tempos de paz apresenta um enredo histórico, pois retrata a ditadura varguista, o Estado Novo, que compreendeu os anos de 1937-1945. O filme trabalha bem as questões que caracteriza uma ditadura: censura, perseguição, tortura, prisões e, principalmente, a violência física e psicológica decorrentes do período. Esse é um ponto positivo da trama, uma vez que, na história brasileira, a ditadura varguista sempre ocupou um lugar secundário se comparado a militar, seja pelo tempo menor em que vigorou ou, talvez, pela política "populista" (via criação de uma legislação social e trabalhista) empregada por Vargas que, de certa forma, camuflou tais aspectos totalitários. Digo secundário no sentido de que, por vezes, a violência desses períodos são colocados em uma balança e comparada, atitude essa que deixa de considerar importantes nuances do contexto histórico em que lhes são referentes. Ora, a violência, seja ela em maior ou menor grau, não deixa de ser alarmante por isso. Um regime ditatorial, sendo esse militar ou não, fere, além dos nossos direitos "democráticos", (as aspas são totalmente válidas, principalmente quando pensamos que se vivessemos numa democracia de fato, o voto e o alistamento militar não teriam que ser necessariamente obrigatórios) as liberdades pessoais do indivíduo, necessitando, para tanto, o uso de uma força desmedida, violenta, para se manter a "ordem".
Mas voltando ao filme, como disse, a trama retrata muito bem esses aspectos. Ela traz a história de Segismundo e Clausewitz, dois sujeitos totalmente opostos, cujas histórias se encontrarão no meio de um interrogatório da imigração.  O título do filme, Tempos de Paz, refere-se ao fim da Segunda Guerra Mundial e a adoção de novas diretrizes políticas para o momento. Segismundo, ex-torturador e oficial da polícia do governo, por exemplo, já tinha sido remanejado para o Departamento de Imigração em funçao do conflito.  Sua missão, na alfândega, seria empregar uma política de "caça aos nazistas e aos comunistas". Entretanto, com o cessar dos canhões, esse seu trabalho, novamente, já não fazia mais sentido para o governo brasileiro.  Sentia-se como se seus serviços que ora foram tão valorizados, já não eram mais úteis ao regime. Aliás, um dos ponto altos da película é a forma com que Segismundo (Tony Ramos), já como ex-oficial da polícia de Vargas, conta, com uma frieza ímpar, alguns do processo de tortura que empregou. Assim, nesses novos tempos, Segismundo passa a temer também uma possível vingança dos prisioneiros que torturou.
Clausewitz ao aportar em terras brasileiras fica maravilhado com a possibilidade de uma vida nova no estrangeiro. Na alfândega, seu erro foi recitar, de forma emocionada, um poema de Drummond, pois além de explicitar certo domínio pela língua portuguesa, ainda deixou intrigrado o agente da imigração, pelos dizeres  de O poeta é um fingidor - Não serei o poeta de um mundo caduco. Também não cantarei o mundo futuro. Estou preso à vida e olho meus companheiros Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças. Clausewitz foi levado para o interrogatório. O interrogador? Segismundo.  Ele fez de Clausewitz seu último caso na alfândega. Como seu passaporte atestava que era agricultor, Segismundo começa a desconfiar do polonês pelas mãos lisas que apresenta e também pela inexistência de bagagens. Clausewitz, porém, não tem nada a oferecer além de suas memórias manchadas pela guerra. Num jogo de diálogos interessante, Tony e Dan, enquanto atores, envolvem-se no drama, com atuações pra lá de excepcionais.  Nesse contexto, o surpreendente acontece: o monólogo de Dan, de fato, faz chorar.

Abro um parênteses. Caro leitor, se durante sua sessão cinema o papel exercido por Dan lhe intrigar, lhe trazer dúvidas como: - Isso não me é estranho... Fique tranquilo! De fato, o Clausewitz muito te lembrará Viktor Navorski em O Terminal. Ou seja, não será só a semelhança física entre Dan Stulbach e Tom Hanks que te perturbará, mas também a semelhança dos papéis e do roteiro apresentado sobre o personagem. Fecho parênteses.

Emocionante e teatral. Essas são as características do filme. Recomendo a todos aqueles que clamam por grandes atuações e belas produções.


Para baixar é só clicar no título ou no link alternativo do filme.

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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Cinema e história: socialismo, capitalismo e os ideais (revolucionários ou não) de felicidade

O cinema alemão tem investido cada vez mais nas temáticas sócio-revolucionárias, recheadas de críticas ácidas tanto ao capitalismo quanto ao socialismo. Além disso, tais enfoques buscam debater também sobre a quebra e mudança de valores, paradigmas e ideais de igualdade na sociedade contemporânea.  Antes de listar alguns deles aqui, é preciso abrir um parênteses sobre qual socialismo e capitalismo as películas retratam. Primeiro, é preciso se ater que aquele socialismo defendido por tantos e tantos jovens nos anos de 1970/80 não se concretizou, uma vez que a política violenta de Stalin desiludiu e castrou as liberdades pessoais de grande parte dessa geração. Dessa forma, os filmes que irei abordar buscam, justamente, apontar severas críticas a política socialista-stalinista e a abertura da Alemanha Oriental ao capitalismo. Quanto ao capitalismo, é preciso lembrar que esse, naquele momento, se encontrava em seu estágio de reconstrução, ainda muito longe do poder e influência que alcançou hoje, graças as práticas políticas que, de certa forma, incentivaram esse processo, como o neoliberalismo. 
Ao pensar nesse post, uma indagação me surgiu: quando pensamos em duas propostas políticas e econômicas tão antagônicas como o socialismo e o capitalismo, qual é a fronteira que delimita o que, de fato, é conservador e o que é revolucionário? Se vivemos num regime mediado pelo capital, aqueles que assim o defendem, dessa forma, são os conservadores. Mas se vivessemos numa época baseada em alguns dos princípios do socialismo, os socialistas seriam assim os conservadores? Ou seja, o conceito de conservadorismo, por exemplo, é inócuo, vazio, oco e de nada serve, pois, ao final, ele sempre jogará ao lado de quem está ganhando...

Enfim, ironias a parte... Durante a apreciação crítica dessas obras busquei, a todo instante, evitar certos anacronismos não só temporal, mas também ideológicos. Porém, isso não implica no fato que você, caro leitor, não possa ter uma visão diferente da minha, aliás, isso somente enriqueceria ainda mais o debate. Sendo assim, esteja a vontade para fazer qualquer objeção que achar necessária...

Vamos aos filmes...


Cronologicamente, Adeus Lenin! (Good Bye Lenin!), realizado em 2003, estréia o bloco de filmes inteligentes, bem construídos e historicamente datados na Alemanha Oriental e nos bastidores da queda do Muro de Berlim. A película navega entre o drama e a comédia, já que seu enredo é conduzido com uma sutileza humorística digna de nota. Afinal, me pergunto: Como o adolescente Alexander poderia contar para sua mãe que todos os ideais que ela tanto acreditara caíra por terra, juntamente com o muro de Berlim, enquanto esteve em coma? Nesse sentido, Alex passa a criar, para a mãe, uma ficção da Alemanha Oriental de outrora, essa que já começava a sinalizar positivamente para o capitalismo, por meio de bandeiras e outdoors de grandes empresas, como a Coca-cola. E é nessa busca incessante de Alex por produtos, roupas, acessórios dos tempos idos que o riso é proporcionado, no esforço do jovem em preservar sua mãe de emoções fortes que pudessem abalar seu fraco coração. O filme possui uma trilha sonora excelente e a trama, como já ressaltei, muito bem conduzida e trabalhada, proporcionando ao telespectador a reflexão sobre as mudanças sociais - de comportamentos, hábitos, enfim - provocadas pela queda do Muro de Berlim, essa que simbolicamente retratou a entrada da Alemanha Oriental na "sociedade do espetáculo" incentivada pelo consumismo oriundo do capitalismo.
  
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Em 2004, surge no universo cinematográfico Os educadores, (The Edukators). Daniel Bruhl aparece agora personificado como Jan (e não mais como Alexander de Adeus Lenin!), um jovem idealista que realiza protestos pacíficos com seu velho amigo Peter e, mais tarde, com a bela Jule. Auxiliados pela profissão de Peter - instalador de alarmes - os amigos iniciam uma série de invasões de domicílio cujo intuito principal é provocar medo, ou melhor, mostrar que mesmo em meio a tanto dinheiro, essas pessoas não ficam imunes a insegurança. Para tanto, esses educadores do mundo contemporâneo criam frases de efeito, como Seus dias de fartura estão contados. O belo e interessante dessa produção concentra-se nos diálogos empregados por meio de dois discursos antagônicos - um revolucionário e outro conservador - ou melhor, o dos três jovens e o do senhor raptado em uma das invasões que fracassou. Nessas conversas podemos identificar os velhos e ainda fracos argumentos que muitos ainda utilizam para defender um ideal, tipo "Eu paguei por tudo que tenho" ou então, do outro lado, "as crianças asiáticas trabalham como escravas para que pessoas como você tenha um carro como esse" e por aí vai. Porém, no decorrer da cena, em meio a tanto confronto, os dois grupos fornecem uma trégua um a outro, proporcionando que seus interlocutores passam a ser, dessa forma, mais ouvidos. Assim, os dois grupos, gradualmente, começam a perceber que há muito mais nos outros do que possam imaginar, questão essa que é evidenciada na cena na qual o senhor se identifica, em partes, com algumas ambições idealistas dos jovens. O final não é tão previsível assim como se pode imaginar...

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Para finalizar, não menos importante é o belíssimo A vida dos outros (Das lebens der anderen), de 2006. De forma similar ao Adeus Lênin, a trama também se concentrará na Berlim Oriental pré e pós-queda do Muro de Berlim. Porém, a atenção agora concentra-se na Stasi, a polícia secreta da antiga Alemanha Oriental, essa que mantinha uma política agressiva de fiscalização e perseguição a todo e qualquer cidadão que se opusesse ou criticasse o Grande Irmão, ou melhor, o regime em vigor. Um dos pontos altos desse filme é abordagem sobre as práticas de corrupção que se fizeram presentes no regime socialista, essas que, embora privilegiassem, de certa forma, o Grande Irmão, também eram empregadas com o fim de obter benefícios particulares e individuais. Além disso, outro ponto auge é a amostra do lado humanitário desse regime marcado por censuras, perseguições, torturas e mortes. Aqui, o grande destaque é a atuação brilhante do capitão da Stasi, Gerd Wiesler (Ulrich Mühe), quando recebe a missão de vigiar e investigar o casal Georg Dreyman (Sebastian Koch), importante dramaturgo e sua namorada Christa-Maria Sieland (Martina Gedeck), famosa atriz de teatro. A partir daí o filme é envolvido por um clima de suspense a la Hitchcook, já que Wiesler começa a se envolver cada vez mais com o romance e dia-a-dia do casal. Não apenas como policial, mas também como voyer, Wiesler se esforça para cumprir sua missão e, ao mesmo tempo, saciar suas curiosidades pessoais sobre a vida do casal.



Para baixar é só clicar no link do filme.

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