“Falar em existência significa justamente colocar em dúvida a possibilidade de que algo exista (...) A existência é uma coisa absolutamente confusa” – Márcia Tiburi
“A essência da existência é a dor” - Shopenhauer
A proliferação de livros auto-ajuda no mundo contemporâneo aponta que o ser possui uma leveza, por vezes, insustentável. O capitalismo além de ser o principal agente causador dessa sensação de eterno pesar se alimenta do mal estar das pessoas para vender essa idéia: a existência como doença. Surgem assim, milhares de Paulos Coelho, Lyas Luft e uma grande quantidade de medicamentos e drogas que prometem sanar, sempre de modo paliativo, essa doença e sofrimento coletivo que tem sua origem no próprio ato de pensar na existência.
Esse é o tema trazido pela filósofa Márcia Tiburi nesse intrigante Café Filosófico. Tiburi nos mostra como a filosofia pode nos auxiliar a refletir sobre questões e angústias que a vida nos traz. Essa viagem do pensamento sobre a existência inicia-se desde o período pré-socrático até filósofos do século XIX, como Shopenhauer e o seu O mundo como vontade e representação e Nietzsche, com sua Gaia Ciência.
Tiburi utiliza-se da metafísica trazida, sobretudo, pelos filósofos da antiguidade clássica para explicar o que é a existência, ou melhor, o que ela significa para aquele que existe dentro de si mesmo. Vale a pena citar: "Pelo simples fato de eu existir dentro do meu próprio corpo, de eu fazer uma experiência concreta, da minha própria individualidade, sendo que eu não posso ser outra pessoa e que, portanto, eu estou condenada a ser eu mesma e que quando eu falo - eu mesma - eu apenas remeto a minha diferença e a minha constituição naquilo que ela tem de oposto ou de complementar ou de estranho em relação ao outro é que eu posso falar de uma existência. Então, eu existo porque eu simplesmente faço uma experiência inexorável da minha própria história no lugar em que eu mesmo experimento essa história, que é o meu corpo. A metafísica já está em mim."
Pensando sobre a existência
Existência como dor versus Existência como prazer
A doença da existência viria do próprio ato de pensarmos sobre nós mesmos. O mal estar e o pessimismo originado por esse ato representaria, assim, a essência da existência. A partir daí, Shopenhauer comanda a cena filosófica com a promulgação da negação da vontade humana, pois já que a essência da existência é o sofrimento, é a dor, nesse sentido, o não-ser, mesmo com todo sentido pessimista que carrega, valeria mais a pena do que ser. Para Shopenhauer, a dor de existir é, de certa forma, antecipações e prévias da morte. Nesse enredo, a felicidade se expressaria apenas como um esforço ético e/ou como uma categoria moral de nosso ser, sendo, portanto, efêmera, nunca eterna.
Em sentido contrário, encontra-se o pensamento filosófico de Nietzsche. Levantando-se contra o pessimismo, Nietzsche apontou o não aproveitamento da alegria pelo homem como o problema da insustentabilidade de seu ser, formulando, posteriormente, a teoria do eterno retorno, ou seja, aquele que não consegue encarar seu passado não supera a doença de sua existência. No lugar do tédio de Shopenhauer, Nietzsche propunha a criação, o gozo, o prazer. "Aquilo que para muitos é a doença, (...) a gente pode encontrar a fonte de nosso própria inspiração criadora".
O autoconhecimento, ou melhor, o ato de pensar nossa própria existência também nos remete a refletir e ir ao encontro a um outro, um outro que habita - por incrível que pareça - em nós mesmos. Dessa forma, o homem se confronta com sua própria alteridade nessa experiêcia subjetiva, causando, por sua vez, o susto, o horror sobre nossa própria existência. "Todo mundo é um e é outro".
Essa potência do horror é tratada, no mundo contemporâneo, como doença, fornecendo, como tratamento, a opção da fuga aos seres insustentados por sua própria leveza. Por exemplo, quando pensamos na psicologia ou, mais precisamente, a terapia, qual é a função do psicólogo ali? Não é ele quem soluciona as mazelas de nossos seres, pois, na verdade, ele só nos induz a pensar sobre nossa própria existência, a olhar para o nosso reflexo, isto é, para nosso eu e o outro que habitam em nós mesmos, buscando assim, fazermos superar nossa potência de horror. Além da psicologia, existem outros "tratamentos" sugeridos para a "doença de nossa existência", incluindo aí o uso de outros meios, como o psiquiátrico e midiático. Entretanto, esses métodos não passam de paliativos, ou melhor, fórmulas de felicidade vazias e sem sentido e respostas prontas para perguntas que, no fundo, nem são nossas. Por fim, ao invés de proporcionar o encontro de nós mesmos com nosso outro, fortalecendo, assim, nossa existência, esses métodos enfraquecem-a, pois a coloca numa redoma de vidro, protengendo-nos de nossa própria monstruosidade, quando, na verdade, deveríamos estar confrontando-a.
Enfim, corroborando um pouco com o pessimismo de Shopenhauer e aproveitando sua escrita jocosa, proponho uma conclusão inconclusiva, marcada por uma reflexão cíclica na qual o ponto inicial é, e sempre será também, o ponto final. Ou seja, no fim das contas, é sempre nós mesmos que somos, causamos e solucionamos os próprios conflitos de nossa existência...
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